Laurissilva, uma floresta em perigo?
O homem nem sempre tem sido capaz
de assegurar a continuidade da riqueza natural que recebe mesmo antes de
nascer. Numa ligação umbilical, a dependência do seu bem estar com o meio que o
rodeia raramente é vivida de forma
equilibrada, de modo a que as suas acções não coloquem em causa a
integridade da biodiversidade que o recebe.
Indo muito além da decomposição
do 'palavrão' biodiversidade em diversidade de vidas, teremos, forçosamente, de
ter em conta o carácter multidimensional que se impõe a qualquer leitura dos
impactos ambientais ou dos perigos e maleitas que afectam qualquer comunidade
natural, onde interagem elementos de todas as parcelas da biosfera.
Atentemos na Floresta
Laurissilva, uma floresta relíquia, considerada Património Natural da
Humanidade, e que actualmente poderá ser encontrada em algumas regiões da
Macaronésia, incluindo a ilha da Madeira, onde tem a sua parcela mais bem
conservada, ocupando cerca de 15000ha, o equivalente a 20% deste território insular.
Graças à diversificação de
espécies que mormente se regista em ilhas oceânicas (cf. Emerson & Kolm (2005),
Whittaker et alli (2008) ou Witt & Maliakal-Witt (2007) e as suas teorias
sobre esta temática), a Madeira possui uma elevada percentagem de espécies
exclusivas, os endemismos, tanto da Madeira como da Macaronésia. Muitas dessas
espécies integram a floresta Laurissilva, reforçando a ideia de hotspot da
biodiversidade que se atribui à 'Pérola do Atlântico'.
Mas esta riqueza é constantemente
ameaçada, regra geral, por pela acção humana. Dos incêndios à introdução de
espécies, tudo conta numa pequena ilha que sofre à escala mundial as
consequências das alterações climáticas, do tempo enquanto elemento chave e da
incúria humana. Nesta equação deficitária impulsionada pelo homem é ele próprio
o grande prejudicado, com repercurções imediatas no seu bem estar (cf. Millennium
Ecosystem Assessment (2005)). A falta de água já se faz sentir em várias zonas,
havendo nascentes que secam com frequência; há espécies que perdem terreno para
as infestantes, com o 'falso verde' a ludibriar os menos atentos; a ilha está
cada vez mais vulnerável (cf. as catástrofes naturais que têm afectado a
Região, com particular detalhe na cidade do Funchal e o deserto de montanha que
a condiciona).
Pese embora o trabalho que tem
sido desenvolvido no sentido de conseguirmos medir com maior exactidão a
biodiversidade madeirense, há que dar passos mais seguros em direcção à
preservação da Laurissilva (cf. Araújo M. (1998) e a necessidade de
construirmos processos de avaliação mais
eficazes) em consonância com todos os outros ecossistemas que com ela interagem
e a condicionam, de modo a que os impactos humanos sejam minorados e a gestão ambiental
ganhe prioridade, muito além de uma escala macroscópica.