Na maior parte das vezes a
relação do homem com o meio natural é geradora de desequilíbrios, saindo perdedora a Natureza. No que respeita à diversidade geológica, o resultado não
foi uma excepção. Tendo como pretexto a necessidade de recursos que satisfizessem
uma industrialização sinónima de desenvolvimento, a transformação da superfície terrestre pelas acções
humanas conduziram, em muitas situações, à destruição do património ou herança geológica (Gray, 2004) que, infelizmente, não
temos sabido preservar.
Perante um cenário em que o homem
é o responsável pela maior parcela destas alterações,
muito à frente dos agentes naturais ou da erosão (Leenaers et al., 2004), urge
tomar medidas mitigadoras, na ânsia de preservar
estas riquezas naturais para as gerações vindouras. Assente numa mudança colectiva, onde a
responsabilidade é partilhada por todos, é necessário promover um uso sustentável dos recursos naturais,
bem como uma alteração do paradigma com
vista à diminuição dos efeitos negativos, preservando a diversidade geológica.
Cada um de nós tem um papel importante na Geoconservação do Planeta. |
É neste contexto que surge a Geoconservação associada a esta
responsabilidade colectiva, focada na correcta gestão dos elementos geológicos,
com inegável valor científico, educacional, turístico ou cultural, transversais
que são a toda a sociedade (Brilha e Galopim de Carvalho, 2010). Definindo-se
aos poucos como ciência, do eixo
Ciências da Terra, que tem na conservação da herança geológica, em particular
dos geossítios, o seu objecto
(Henriques, 2010), promovendo o seu inventário,
caracterização, classificação, conservação,
divulgação e monitorização (Brilha, 2005), a Geoconservação socorre-se de
metodologias distintas para assegurar a
identidade do planeta.
Ora, seguindo um conjunto de
etapas bem definidas, a Geoconservação não pode ser dissociada da sociedade,
impulsionando a evolução do conhecimento científico, a protecção e gestão da
natureza e da superfície terrestre, a educação dos homens e a divulgação e
promoção dos lugares geológicos (geoturismo e a importância dos geoparques),
preconizando um desenvolvimento
sustentável.
Em todo o processo, além do
envolvimento fundamental da população (Gray et al., 2008), é igualmente
importante e necessário, tal como também defende José Brilha (2010), que
"toda e qualquer iniciativa nacional de geoconservação seja devidamente suportada pela legislação em vigor
no país", pois só com estes instrumentos se consegue um enquadramento
adequado a qualquer estratégia que venha a ser implementada, conferindo
legitimidade a quem promove a conservação, quer estejamos perante geossítios (que se definem pelo seu
interesse científico, à escala internacional) ou sítios com interesse geológico (que não se limitam ao interesse
científico, tendo também relevância o seu interesse educativo ou turístico, por
exemplo).
Ora, fundamental em qualquer estratégia
de geoconservação é a identificação e caracterização dos locais abrangidos
(Brilha, 2005; Henriques et al., 2011), com método (cf. Brilha, 2015, que
refere alguns aspectos a ter em conta em todo este processo), tendo em conta o
motivo, o valor, a sua escala e o seu uso (Lima et al., 2010), não descurando,
por exemplo, o risco de degradação nos diferentes aspectos (cf. as propostas
metodológicas apresentadas por Brilha, 2015).
Uma estratégia de Geoconservação consertada engloba as diferentes entidades em torno do bem comum. |
Revela-se, pois, importantíssimo
conhecermos o 'chão que pisamos', compreendendo os fenómenos que estiveram na
sua génese, para a partir daí conseguirmos valorizá-lo e, por conseguinte,
melhor o conservar enquanto património ou herança geológica. Embora seja óbvio
as dificuldades acrescidas quando está em causa um público pouco familiarizado
com esta realidade, habituado que tem estado apenas à sua valorização enquanto
recurso (por exemplo, energético ou metálico), capaz de suportar a evolução
científica e tecnológica, o desenvolvimento e, em última linha, o conforto e
bem-estar.
Ora, só com um trabalho conjunto
entre diferentes entidade e baseado na colaboração da sociedade, é possível
encarar as novas perspectivas que dão forma a uma abordagem sustentável do
património geológico, garantindo uma geoconservação que não descura o presente,
mas também tem em conta o futuro, atribuindo-lhe valor científico, educativo ou
turístico.
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